AS DECISÕES MAIS DESASTROSAS DA HISTÓRIA


Naufrágio do Titanic: a falta de botes para os passageiros piorou a tragédia | <i>Crédito: divulg
Naufrágio do Titanic: a falta de botes para os passageiros piorou a tragédia | Crédito: divulg
Errar é humano. E bota humano nisso. Se decisões erradas tomadas por pessoas comuns já causam confusão, prejuízo e frustração, quando a escolha equivocada é feita por quem ocupa uma posição de comando, as consequências podem ser trágicas e mortais. O escritor inglês Stephen Weir, autor de As Piores Decisões da História – E as Pessoas que as Tomaram, coletou 50 histórias reais em que escolhas motivadas por raiva, inveja, fé cega, luxúria, ganância e até mesmo pelo desejo de fazer caridade trouxeram resultados desastrosos, provocando prejuízos, sofrimento e incontáveis mortes.
Weir não cita nenhum caso ocorrido no Brasil, mas nosso país não escapou dessa maldição, como aconteceu com a desastrada tentativa do ex-presidente Fernando Collor em buscar apoio popular para sua permanência no poder ou no descaso do presidente eleito Tancredo Neves com a própria saúde. Veja alguns exemplos do alto preço que somos obrigados a pagar por sermos inapelavelmente humanos.

BOTES SALVA-VIDAS, QUEM PRECISA DELES?
Abril de 1912
Não há quem desconheça a história do naufrágio do Titanic. Em 1912, o maior navio de passageiros do mundo chocou-se com um iceberg, que lhe rasgou o costado, e afundou, matando mais de 1 500 pessoas. De acordo com o livro As Piores Decisões da História, a decisão incorreta foi além da desatenção da tripulação ou da crença de que nada poderia fazer o Titanic afundar. Seu autor considera que a ganância e o orgulho levaram seus proprietários e projetistas a diminuir o número de botes salva-vidas no navio. E fizeram isso por dinheiro e marketing. Não para economizar no preço dos botes, mas para deixar mais espaço para os passageiros se locomoverem e se divertirem. Dessa maneira, os 20 botes poderiam levar, a plena capacidade, 1 178 pessoas, algo inquietante quando se sabe que a capacidade total do navio era de 3 500 embarcados. No momento do naufrágio, o Titanic estava abaixo de sua capacidade total e carregava 2 210 ocupantes. Mesmo se a evacuação do transatlântico fosse feita de maneira organizada, aproveitando todo o espaço disponível nos escaleres, o que não aconteceu, 1 032 pessoas estavam condenadas a se afogar nas águas geladas do Atlântico desde o começo. A ordem de reduzir o número dos botes partiu de J. Bruce Ismay, presidente da White Star, proprietária do navio. Ismay estava no navio no momento do naufrágio. Escapou e continuou como presidente da empresa por mais 25 anos.


INVASÃO DE ORELHUDOS
Dezembro de 1859
O inglês Thomas Austin adorava caçar. Emigrado com a família para a Austrália, aos 16 anos, em 1831, tornou-se agricultor e membro da Sociedade Vitoriana de Aclimatização, que se dedicava a trazer espécies europeias para o país. Em 1859, encomendou 24 coelhos da Inglaterra. A ideia era soltá-los em suas terras para uma
caçada de Natal. Os animais fizeram o que os coelhos fazem de melhor: reproduziram-se. Como Austin era louco por caçadas, já havia exterminado os predadores – gaviões, águias e até gatos – dos orelhudos invasores. Sem inimigos naturais, em pouquíssimo tempo os animais se reproduziram incontrolavelmente. Sete anos depois de chegarem à Austrália, Austin já havia matado 14 mil coelhos em sua propriedade, mas isso não significou nada. Os bichos devastaram as colheitas, levando à ruína inúmeros agricultores. Em 1907, o governo construiu uma cerca de 1 150 km para tentar impedir que os animais ocupassem todo o país. Não deu certo. Em menos
de 100 anos, os coelhos tomaram a Austrália. A voracidade do bicho teve profundo impacto sobre a fauna. Sem alimento, três espécies de papagaios e 23 dos 26 tipos de árvores em uma ilha australiana desapareceram. Em algumas áreas, até 75% dos mamíferos foram extintos. O governo iniciou uma perigosa guerra química inoculando
os coelhos com doenças e pulgas. Até agora, o bicho ainda resiste.

A DOENÇA ESCONDIDA
Abril de 1985
O Brasil vivia um dos seus mais delicados momentos políticos no início de 1985. Após 21 anos de ditadura, tomaria posse um presidente civil, Tancredo Neves, experiente político mineiro, que garantia estar comprometido com a redemocratização do país. Não era ainda a volta das eleições diretas – Tancredo fora eleito
indiretamente em 15 de janeiro por um Colégio Eleitoral composto de deputados e senadores do Congresso Nacional –, que não encontraram uma conjuntura favorável para a suainstalação, mas era considerado um avanço político relevante. Mas Tancredo Neves, então com 74 anos, vinha sentindo a saúde fragilizada. O assunto transformou-se em segredo de Estado. Temendo que os militares, que ainda estavam no poder na figura do presidente João Baptista Figueiredo, tentassem impedir sua posse usando sua doença como pretexto, o político mineiro escondia a enfermidade e protelava o necessário tratamento.
Quase 30 anos depois ainda persistem inexatidões sobre os acontecimentos, mas é aceito que o presidente eleito automedicou-se com antibióticos, o que mascarou os sintomas e a causa de seu mal-estar. No dia 14 de março de 1985, na véspera de sua posse, Tancredo foi finalmente internado com uma infecção intestinal no Hospital de Base, em Brasília. Seu vice-presidente, José Sarney, tomou posse como presidente no dia 15. No ambiente caótico que se seguiria, o candidato foi submetido a sete
operações, algumas acompanhadas por pessoas leigas que chegaram a fumar na sala de cirurgia. Transferido para o Instituto do Coração, em São Paulo, Tancredo, seus assessores e familiares continuariam a esconder seu real estado de saúde até a data da sua morte, em 21 de abril. Mostra disso é uma foto em que o político aparece sentado sorridente em um sofá rodeado por médicos e assessores, enquanto por trás do móvel esconde-se um enfermeiro que segurava uma bolsa de soro fincada à veia do paciente, que, soube-se afinal, sofria de diverticulite, uma doença raramente fatal, a não ser quando apresenta complicações, como no caso do presidente eleito.

UM TOQUE DE PRETO 
Agosto de 1992
O presidente do Brasil, Fernando Collor, vivia seu inferno astral em agosto de 1992. Eleito em 1989, era acusado de corrupção por jornais e revistas, investigado pelo Congresso e perdera o apoio da população. Agora, enfrentava as primeiras manifestações de rua, principalmente de jovens, que pediam seu impeachment. No dia 13 de agosto, quinta-feira, o presidente resolveu contra-atacar. Em discurso, criticou as manifestações, “de uma minoria”, e conclamou a população que saísse às ruas, no
domingo, vestindo verde e amarelo. Para desafiá-lo, manifestantes vestiram-se de preto e ocuparam quase todas as capitais. Incrivelmente, em uma época em que a internet era discada e redes sociais, ficção científica, o país decidiu protestar usando preto, sem que ficasse claro como a ideia se espalhou tão rápido. Collor renunciou,
em 29 de dezembro.

TERRA ARRASADA
Junho de 1812
Em 1811, ninguém parecia ser mais poderoso na Terra do que o general francês Napoleão Bonaparte. Bélgica, Holanda, partes da Alemanha e uma extensa região do litoral italiano, incluindo Roma, foram incorporadas à França. Além disso, quase toda a Europa continental era vassala do imperador francês. Não havia como resistir aos seus exércitos. E então veio a decisão errada: invadir a Rússia. O Exército de Napoleão contava com 680 mil homens, contra 250 mil russos. Mas estes adotaram
uma inesperada tática: fugir mais rápido do que os franceses avançavam e esvaziar todas as cidades e campos que poderiam ser usados para alimentar o invasor. A
tática da terra arrasada. Logo a fome, a marcha forçada e as deserções faziam os franceses perderem até 6 mil homens por dia. Era urgente parar o ataque, trazer reforços, víveres e médicos. Mas Napoleão resistia. Em julho, consentiu em fazer uma parada em Vitebsk, a 600 km de Moscou. Mas inexplicavelmentemudou de ideia e determinou que o Exército seguisse para a Rússia. Cansados e novamente encontrando a terra arrasada, os soldados franceses perdiam ainda mais forças. Napoleão então ordenou a retirada. Mas era tarde. Obrigado a enfrentar as tropas russas pela retaguarda e um inverno rigoroso, 550 mil homens e 175 mil cavalos morreram. Sobraram apenas 10 mil integrantes. O império napoleônico chegara ao fim.

O DEUS ERA ESPANHOL
Novembro de 1519
A fé desmedida e cega pode produzir estragos. Montezuma II era imperador dos mexicas, descendentes dos astecas, e governava o seu grande e rico reino de Tenochtitlán, hoje Cidade do México. A cidade, acredita-se, era maior do que qualquer congênere europeia e possuía um sistema de canais tão ou mais complexo que o de Veneza. Os mexicas acreditavam que o seu mais poderoso deus, Quetzalcóatl, criador do Céu e da Terra, voltaria a qualquer momento. Aliás, deveria voltar naquele
ano mesmo, conforme previam os sacerdotes, vindo do Mar do Leste. Quando Montezuma II foi informado de que estranhos seres de cabelos claros e barbas longas, com animais desconhecidos e armas poderosas, haviam desembarcado do mar, não teve dúvidas que eram Quetzalcóatl e seu séquito. Os seres de cabelos claros eram espanhóis comandados por Hernán Cortés, que trazia cavalos, cães, canhões – e micróbios. Vinham de Cuba, pelo Mar do Caribe, o Mar do Leste dos mexicas. Deleitado, Montezuma II recebeu Cortés com um discurso de adoração. Entregou a ele o seu reino e suas inúmeras riquezas em ouro, de mão beijada. Montezuma foi
morto pelos espanhóis, seu ouro levado para a Europa, Tenochtitlán destruída e seu povo dizimado.
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Romário Bispo